Hoje gostaria de dedicar essa coluna para homenagear as matriarcas da minha família materna. Mas sobre tudo a minha querida bisavó, Anair Lettieri Copatti. A Bisa foi uma mulher forte, amorosa, generosa e batalhadora que sempre se sacrificou pela sua familia. Qualidades que conseguiu passar às suas 5 filhas, 11 netos e 14 bisnetos. Ela faleceu no 3 de outubro de 2018, aos 95 anos. Essa matéria é um trecho do meu diário da época que decidi compartilhar agora em sua memoria. Espero que gostem.
Sabado 14 de Abril, 2018
Minha mãe me diz que a minha avó nunca foi de mostrar o seu afeto com carinho, beijos, abraços ou palavras mas sim, através de sua dedicação e trabalho duro por dar a ela e aos meus tios uma vida boa sem penúrias. Pelo menos antes dos netos.
Depois do seu divórcio ela teve que ser tanto mãe como pai para seus filhos. Educar, dar um teto e pôr comida na mesa tudo sozinha, algo quase inaudito naquela época e especialmente no Guará II, ainda sem asfalto e iluminação publica, onde a minha mãe, seu irmão e meu tio do coração poderiam muito bem ter ido pelo caminho errado.
Como consequência, a minha avó nunca esteve muito em casa e quando estava, encontrava-se cansada demais como para passar tempo de qualidade com seus filhos. No seu lugar, a minha bisa era quem tomava conta das crianças. Houve 1 ano em que meus tios passaram 1 ano morando na casa dos meus bisos, um dos piores e mais difíceis na vida da minha avó. A Bisa lhes deu carinho, cuidado, atenção, colo, amor. Essa relação afetiva entre mãe e filhos, se deu entre avó e netos.

Porém eu, sempre tenho visto a minha bisavó como um fantasma. Um neném enrugado e quase surdo-mudo, desmemoriado pelo Parkinson, que só estava lá fisicamente, pois quase sempre sua cabeça estava ausente. Nunca tenho visto a minha bisavó como uma pessoa, pois nunca tenho mantido uma conversa com ela, e nem mesmo tenho visto ela interagir de maneira coerente com outra pessoa. Até hoje que presenciei a minha mãe falando com a minha bisa pelo Skype.
A minha mãe começou a chorar falando com a sua Vovó. Talvez pelo medo de voltar ao Brasil e não achar ela viva, ou simplesmente a dor de ver uma mulher tão forte e importante na sua vida reduzida a um estado de completa dependência alheia. Minha mãe pretendia ir ao Brasil mostrar para Bisa seu novo dom , a panificação sem glútem, caso foi que pela primeira vez eu vi minha mãe como uma criança procurando colo, quando no meu dia a dia, ela é a mulher mais chata, exagerada e ansiosa que possa existir no planeta. Claro, pois é a minha mãe, e eu sua filha aborrecente.
Lembro sempre deste versinho que minha Bisa declamava:
“Hoje e ontem quando ia para a escola
Eu era tão pequenininha que até chorava
A professora raiava “Cala menina!”
Hoje, eu sou grande e sei tanto, tanto
Que até decoro”